Da criança generalizada à indústria dos diagnósticos
DOI:
https://doi.org/10.31683/stylus.v1i50.1249Palavras-chave:
Criança generalizada, Diagnósticos, Patologização, MedicalizaçãoResumo
Lacan (1967) nos diz que a aliança entre o discurso científico e o discurso capitalista será responsável pela universalização e homogeneização dos indivíduos. E há um preço a se pagar pela universalização do sujeito, pois trata-se de uma subversão sem precedentes. A tese de Lacan indica a segregação como consequência da universalização (Soler, 1998) e, ao retomar a trilha percorrida por Michel Foucault na sua crítica ao campo médico-psiquiátrico, conclui que a psiquiatria aliada ao discurso da ciência nos levará ao campo de concentração generalizado, ou seja: separar, isolar, concentrar para dominar a partir de um projeto de uniformização. O discurso da ciência, que hoje a psiquiatria biologizante representa, difundiu o poder psiquiátrico que seguiu na esteira de uma prática médica que já nasceu como um sistema de vigilância. O que sobrevive entre nós é a lógica do isolamento que Lacan (1967) atribui ao nascimento do campo da psiquiatria. Isolar e concentrar pessoas é o tributo dessa universalização, e Michel Foucault (1973-1974) considerou que este poder psiquiátrico se realizou a partir da infância. Propomos abordar a expansão dos diagnósticos e a medicalização de crianças no Brasil, como efeito da universalização dos modos de gozo. De que modos a criança generalizada favoreceu que a infância se tornasse um campo em disputa na lógica do mercado? Será esta a herança e o preço que pagamos pela universalização do sujeito?
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