A uberização do psicanalista e os perigos para a Psicanálise e a Escola: do amor pelo saber à paixão da ignorância
DOI:
https://doi.org/10.31683/stylus.v1i45.1010Palavras-chave:
psicanálise, formação, discurso capitalista, discurso do analista, mercadoriaResumo
Discutem-se os perigos, para a Psicanálise, seu discurso e a Escola: a) das constantes ameaças de regulamentação da profissão de psicanalista; b) da multiplicação de ofertas precárias pretensamente relacionadas à formação de psicanalista; c) das contratações de psicanalistas como trabalhadores prestadores de serviço por clínicas privadas, em regime de trabalho informalizado e remunerado por número de atendimentos realizados. Propõe-se que essas ameaças derivam-se do discurso capitalista, que funciona como um buraco negro exercendo força gravitacional imensa sobre qualquer formação discursiva distinta em seu raio de alcance: sugando e submetendo tudo à dominância hegemônica de sua estrutura de ordenamento de gozo. O capitalismo caracteriza-se pela aversão ao amor e ao saber, ao produzir um sujeito que: a) não se interroga sobre a fantasia de que a mercadoria dá conta do seu desejo e gozo; b) não questiona a origem da 'programação' que articula mercadorias ao objeto causa do desejo; c) desinteressa-se pelo inconsciente. "Não quero saber nada disso" é o norte da sua vida, guiado pela "paixão da ignorância". Ainda que o ofício do psicanalista seja orientado pelo amor, pelo saber e pela ética do desejo, o discurso capitalista constitui uma ameaça sempre presente de cooptação e destruição de sua ética e discurso. Regulamentar a prática psicanalítica e padronizar sua formação nos moldes de uma profissão é a via para a sua mercadorização (ou pior: para sua uberização) e para a eliminação da subversão que ela sustenta como furo: a fissura que indica que, ao capitalismo, falta um coração.
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